Saiba o porquê do setor de relações com investidores ser tão necessário e entenda o seu grande potencial para o negócio
Para fazer uma introdução sobre o tema relações com investidores, considere as seguintes situações: existem pessoas que, ao comprar uma casa, avaliam apenas o fator preço. Já outras, pesquisam sobre a segurança do bairro, a acessibilidade ao transporte público e se há empreendimentos que serão construídos próximos ao local, e que podem, no futuro, valorizá-lo.
E assim podemos comparar esses dois casos com o mundo dos investimentos. Alguns investidores compram ações sem estudá-las, o que pode ser um grande risco. Já outros, preferem saber tudo sobre a empresa que está investindo. E é por causa do segundo perfil descrito que as relações com investidores mostram a sua importância.
O que é relações com investidores?
A área de relações com investidores é um setor de uma empresa que possui capital aberto — ou seja, que negocia ações na bolsa de valores, sendo uma sociedade anônima (SA). A princípio, foi criado para atender as exigências dos órgãos reguladores.
No entanto, logo foi notado que o departamento possuía grande potencial, maior do que apenas regulamentar a organização perante à lei. Isso porque, de forma estratégica, pode alavancar os resultados — algo que todo empresário deseja.
O profissional de RI atua como uma espécie de ponte entre a instituição e seus investidores. O setor pode ser classificado como a junção de atividades, métodos, técnicas e práticas que estão, direta ou indiretamente, relacionadas aos departamentos financeiro, de marketing e de comunicação.
O principal objetivo é mostrar ao mercado e aos investidores sobre a saúde da empresa e, assim, divulgar o seu potencial de investimento. Além disso, cabe ao núcleo de relações com investidores integrar a comunidade nacional e internacional. Agir com transparência perante a todos os “sócios” e potenciais investidores é algo indispensável para o sucesso.
Sobre o profissional de RI
Para começo de conversa, como já citamos neste artigo, as relações com investidores foram criadas para atender normas legislativas. Com isso, a principal função de quem atua nesta área era de produzir e enviar conteúdos obrigatórios, como relatórios anuais, por exemplo.
No entanto, o profissional de RI trabalha como uma espécie de assessor da companhia. Ele pode estar presente em eventos online e presenciais, em busca do fortalecimento da marca. Também deve realizar reuniões com potenciais investidores e com os acionistas, como forma de prestação de contas. De certa forma, acaba sendo um porta-voz da corporação diante de seus públicos externos e até mesmo internos.
A aproximação entre mercado e empresa dependerá de uma boa comunicação de RI, que deve ser estratégica e pré-estabelecida com os outros departamentos. É necessário avaliar em conjunto as informações que serão divulgadas ao mercado.
E não para por aí: além de ser responsável por comunicados aos multi públicos, o profissional de RI monitora a saúde financeira da empresa. Qualquer ponto fora da curva deve ser notado e resolvido em conjunto com os setores responsáveis.
Características do profissional
A priori, ser um especialista sobre o assunto “mercado financeiro” é primordial. É preciso conhecer a fundo para encontrar oportunidades de negócios ou até mesmo momentos adversos. Além do mercado, é de extrema relevância que conheça muito bem todo o histórico financeiro da corporação que atua. Isso ajudará a contornar erros que podem ter sido cometidos no passado.
Vale salientar que tal função é de grande importância e responsabilidade, pois lida com dados sigilosos e privilegiados. Por isso, é um cargo de confiança em qualquer corporação. É necessário que o profissional tenha um feeling aguçado sobre o que deve ser informado ao mercado e sobre o que não deve.
Especialização na área
É interessante que o profissional saiba falar em outros idiomas — principalmente o inglês —, pois a atuação do RI envolve o mercado internacional. E, claro, a comunicação deve ser o ponto forte, estando apto a conceder entrevistas a grandes veículos de comunicação e também preparado para contornar situações inesperadas.
Existem cursos preparatórios para cumprir a função de RI, como a Certificação do Profissional do Profissional de Relações de Investimentos, promovido pelo Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI). O curso é dividido em níveis 1 e 2. Para cada fase está definida uma especificação técnica. Para participar, é necessário que o candidato tenha ensino superior completo ou experiência na área de RI.
Como implementar
Para a implementação da área de relações com investidores, a empresa necessitará de um profissional capacitado — de acordo com as características citadas anteriormente. E não precisará de muito mais do que isso. O mais importante é que a pessoa que esteja à frente da função se integre com os outros departamentos que são fundamentais para o seu funcionamento, pois será preciso tomar decisões em conjunto.
Dependendo do porte da companhia e da quantidade de movimentações que ela exerce no mercado financeiro, será importante ter um time composto por mais pessoas. Com isso, as tarefas que um profissional de RI podem ser separadas entre os profissionais. Afinal, com muita demanda, é preciso prezar pela qualidade. Quando se fala de reputação perante aos multi públicos, todo cuidado é pouco.
O ideal é que a área seja implantada logo de início, durante o processo de IPO, sigla em inglês que representa o início de determinada corporação no mercado acionário — ou seja: o começo de disponibilização de ativos (ações) na bolsa de valores. Para começar sem cometer erros, é recomendável que se faça um trabalho de assessoria com empresa especializada em RI e o uso de ferramentas de comunicação para facilitar nas demandas do dia a dia.
Por que é importante
O setor de relações com investidores é importante pelo simples fato de ser uma obrigatoriedade de empresas que possuem capital aberto. Esta é uma exigência da Comissão de Valores Mobiliários (CMV), órgão que regula o mercado de ações no Brasil.
No entanto, cumprir a lei é mero detalhe quando se enxerga o departamento de RI como forma de potencializar os investimentos. As relações com investidores são de extrema importância para que se consiga bons investimentos, principalmente durante o período inicial de ofertas públicas.
Além disso, a saúde financeira da empresa será cuidada pelos profissionais que atuam no setor. Por isso, além de obrigatória, o núcleo de relações com investidores é fundamental para empresas de capital aberto que se importam com a reputação perante ao mercado e que desejam crescer ainda mais com os investimentos.
História das relações com investidores
O surgimento das relações com investidores não foi algo inesperado. Isso porque, no início da década de 1950, os Estados Unidos — que viviam um momento pós-guerra — entravam em um período de 20 anos de robusta expansão econômica, sendo um dos mais longos de sua história. Os investimentos eram feitos como esforço de recuperar os prejuízos durante a Depressão e a II Guerra Mundial.
As indústrias elétricas e de telefonia necessitavam de aportes de capital. Assim como os setores de construção civil, o de bens de consumo em geral e a indústria automobilística cresciam exponencialmente, fazendo frente a mercados que estavam sedentos por consumo.
O “início oficial” do departamento de RI
- Em 1950, a gigante automobilística Ford, de forma grandiosa, lançou ações no mercado financeiro que eram focadas em pequenos investidores. Eles entendiam que tais acionistas poderiam ser potenciais compradores de seus veículos e utilitários. A estratégia deu certo e logo foi seguida por outras indústrias;
- Em 1952, o número de norte-americanos que possuíam ações chegou ao expressivo número de 4,5 milhões, o que representava 4% da população do país na época;
- Em 1953, surge de forma estruturada a atividade de RI. Tudo aconteceu quando Ralph Cordiner — que era presidente da General Eletric — implementou um programa formal de relacionamento de sua empresa com os acionistas. Com isso, um novo departamento foi criado e o nome relações com investidores foi utilizado pela primeira vez. A primeira tarefa desempenhada foi uma pesquisa com os acionistas da GE, para levantar informações sobre as necessidades das pessoas e os melhores meios de contato;
- Em 1965, os Estados Unidos atingiram a marca de 20,1 milhões de investidores, o que representava 15% da população na época. Isso significa que 1 em cada 6 norte-americanos adultos investia na bolsa. O rápido crescimento fez com que o setor de RI se expandisse nas empresas.
Crescimento no Brasil
O departamento de RI demorou um pouco mais até ganhar força no Brasil se comparado aos Estados Unidos. Para avaliação da expansão da área no Brasil, pode-se considerar a criação do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI).
- Ele foi fundado em junho de 1997, inspirado em seu congênere norte-americano, o National Investor Relations Institute (NIRI). O principal objetivo era criar oportunidades para valorizar a atuação do profissional de RI;
- Em junho de 1999, promoveu a primeira edição do Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, em parceria com a Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca);
- Em março de 2001, a IBRI firmou parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI) para lançar o MBA Finanças, Comunicação e Relações com Investidores, visando disseminar a teoria e prática do papel do RI nas corporações;
- Uma nova atuação envolvendo novamente a IBRI e a FIPECAFI originou, em fevereiro de 2003, a primeira edição da pesquisa sobre o profissional e a área de RI. O objetivo era mapear a evolução do departamento nas empresas e as características dos profissionais;
- No ano de 2007, em junho, o IBRI lançou o “Guia de Relações com Investidores” — em parceria com a Bovespa — e o “Manual do RI: Princípios e Melhores Práticas de Relações com Investidores”, escrito por Willian F. Mahoney, um dos maiores especialistas em RI do mundo.
Estes foram alguns marcos que estão presentes na linha do tempo do instituto.
Concluindo…
Neste artigo, foi possível entender sobre o que é a área de relações com investidores, como ela surgiu, o seu funcionamento, a importância dela para a saúde financeira das corporações, as características que um profissional de RI deve ter e um pouco de sua história no Brasil e no mundo.
Indispensável, o setor de relações com investidores deve ser encarado como algo que trará muitos benefícios e retornos financeiros às empresas de capital aberto que enxergam esse setor de forma estratégica — e não apenas como uma obrigação. Afinal, a imagem e reputação da empresa perante aos seus acionistas e potenciais investidores será formada por meio do setor de RI.